quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

TAUARIZINHO E QUATIPURU-MIRIM PARTE1

Esse texto vai ficar um pouco longo, mas achei necessário para dar contexto a situação. Pouco antes das minhas ferias de agosto deste ano de 2012, Eu  estava carregando uma panela em um supermercado como se fosse um bebê e enquanto me dirigia ao caixa, a tampa da penela não parava no lugar.

Até que em um dado momento a tampa salta  da panela e na tentativa de recuperá-la, fui traído pelo chão escorregadio do supermercado. Foi tudo muito rápido, escorreguei num solavanco tão grande que fiquei de pernas pro ar e foi neste momento em que estava de ponta cabeça, que cai com toda a força dos meus atuais 106 kg  sobre um único ponto do meu corpo, meu ombro direito.

O impacto foi tão grande de desloquei meu ombro de maneira estranha, senti algo pontudo em minhas costas e percebi que tinha deslocado mesmo. Na mesma hora lembrei dos tempos de socorrista e pensei “é agora ou depois vai doer muito”. Então pus a outra mão nas costas e empurrei o osso de volta para o lugar. Dai chegou um camarada que era bombeiro e ajudou a me re-erguer. 
Fomos para casa, para pegar os documentos e posteriormente ir ao hospital. Já no caminho, com o sangue frio. não vou mentir,  a dor era latente. Outras coisas aconteceram comigo antes: desloquei o outro ombro, já torci o meu pés várias vezes, já rachei um dedo da mão, rachei a cabeça, cai com o punho em estilhaço de vidro que quase cortou meu tendões e não sentir tanto quanto senti nesse ombro.  

Passada essa situação entra a segunda parte da história. Então eu pensei comigo mesmo: “-puta merda, por conta desse ombro bichado, lá se vão minhas férias que estavam chegando”. Fui tentando me recuperar na medida do possível e fiquei de marcar a fisioterapia só depois das férias. Haja anti inflamatório tudo prescrito pessoal, nada de auto medicação.  Também usei tipóia até o ombro ficar firme.
 
Passaram-se alguns dias e como já sabia como era fisioterapia pro ombro, decidi que iria fazer alguns exercícios pra ir melhorando a condição do ombro, mas logo chegou agosto e o ombro ainda estava bem avariado. Decidi então seguir com os exercícios e aproveitar as férias na medida do possível.

Arrumei minhas tralhas e viajei para o nordeste do estado. Precisamente em Tracuateua. Foi nesse lugar onde passei boa parte da minha infância e adolescência. Vivi muitas das minhas aventuras nesta região. Meu lado nativo, que todo interiorano daqui sente quando fica muito tempo longe da natureza, estava gritando.  E era pra lá que eu estava indo como faço todo ano, para recarregar minhas baterias depois de um ano longo em contato com os problemas da cidade.

Lá pro dia 18 do mês percebi uma melhora no ombro e dá pra imaginar a felicidade e o que eu vislumbrei naquele momento? Mato!!!! Comecei a organizar minha tralha de campo, verifiquei aquilo que estava faltando (mantimento) e fui as compras. O interessante é que aquilo que normalmente é bem difícil de encontrar na cidade grande, é bem mais fácil de encontrar no interior. Então achei tudo que precisava muito fácil nos mercados do centro da cidade.

Com tudo adquirido, partir durante as manhãs, para sondar áreas para possível campo.  Percorri muito lugares de bicicleta, pois era a melhor maneira de apreciar tudo calmamente. Encontrei muitas áreas interessantes. Em um deles tive dificuldade pra conseguir autorização de entrada.  Era uma área que pertencia ao governo federal, antiga área de pesquisa da Embrapa que foi desativada no início da década de 90 e cedida a prefeitura. 

Campos da Embrapa em Tracuateua e mata ao Fundo.

O lugar possui uma área de mata imensa que nunca foi explorada pela Embrapa. Sinceramente eu nunca tinha entrado naquela parte do campo. E fiquei doido, mas doido mesmo pra explorar. Falei com autoridades locais, mas foi criado todo tipo de dificuldade e acabei não conseguindo autorização. Como era fim de mandato não insisti muito. Vou aguardar o próximo prefeito para pedir uma nova autorização.



Encontrei áreas degradadas também. Uma delas virou lixãozinho ilegal criado pela prefeitura local. Uma cidade pequena que poderia ter tranquilamente coleta seletiva e um manejo melhor do lixo local, Mas o prefeito achou melhor desse jeito. O interessante é que este lugar é cheio de igarapés nas redondezas que possivelmente serão contaminados pelo chorume do lixo ali armazenado, além da contaminação do solo. Espero que as coisas mudem.




Bem mas a frente, pegando um pouco atrás do lugar citado acima, existe uma mata imensa e um rio que a corta chamado de Taurizinho. Neste rio eu costumava ir com alguns amigos na adolescência para pescar. Apesar da degradação próxima o rio e a mata ainda estavam bem preservados. Não havia entrado nessa mata antes, pois o rio sempre foi o foco na época. Então resolvi que iria explorá-la.

Determinado o alvo era hora de planejar melhor meu objetivo. Como não conhecia o lugar resolvi que iria apenas passar o dia lá, e ir o mais longe que eu pudesse dentro da mata de 6:00 até o 10:00 ter um intervalo de 3 horas e retornar no mesmo intervalo de tempo. Deixei um mapa em casa de onde eu estaria e o número do meu telefone aos meus pais. E foi essa a história que se seguiu abaixo. 



O interessante é que pouco antes de começar minha incursão, quando ainda estava me preparando já praticamente dentro da mata. Passa um caboclo de bicicleta só com um terçado na mão. Dai eu o cumprimentei: "uêêp!!" ele também: "uôôp." e seguiu mata adentro. É esse tipo de coisa que eu falo nos fóruns da vida e ninguém põe fé. Um caboclo...um facão e a mata!

Bem...agora que resolvi registrar um pouco mais as minhas aventuras, percebi durante a caminhada dentro da mata que a minha câmera digital (Sony wx70) que havia adquirido a poucos  meses atrás não era suficiente em termos de zoom para captar com qualidade os animais da floresta principalmente os que estavam nas copas das arvores, fiquei um pouco decepcionado, mas não pretendo adquirir nada desse tipo tão cedo, pois fora isso ela é muito boa.

Como puderam ver no vídeo, tive várias situações inesperadas. A primeira delas foi a mochila que arrebentou a alça, me deixando bastante preocupado em relação ao ombro que não estava nem 50% recuperado. Não havia levado meu kit reparos que poderia resolver o problema com a mochila. Vacilo, pois sempre levo comigo, mas por achar que dessa vez não iria acontecer nada, não levei. Olha a lei de Murphy ai. Ainda estava sentindo o meu ombro de maneira que não poderia continuar nem se quisesse.

Só pra esclarecer dois detalhes do vídeo é que a Super-Tiririca que encontrei era o capim navalha segundo algumas informações que me deram e outro detalhe é sobre o clima. É que normalmente o clima dentro da mata é muito quente, mas o verão estava de lascar e já faziam vários dias que não chovia. Por isso o calor tão intenso.

O outro problema foi o dos caçadores. Só salientando que quem me conhece sabe que não curto “caça exportiva” e acho até esse termo errado pra isso e tenho minhas razões que deixarei pra uma outra postagem.

Os caçadores apareceram justo quando me preparava para fazer o almoço. Eu ouvi eles se comunicando por meio de uivos, que se assemelhavam a assovios curtos. É comum o pessoal usar esse tipo de comunicação na mata por aqui. No meio da mata dava pra identificar muito bem cada um e de onde eles vinham e conclui que era em numero de 7 e eu estava cercado.  Estava aparentemente no meio de um iminente fogo cruzado e tinha duvidas se eles realmente eram caçadores ou invasores armados e se fossem caçadores se eles estariam plantando armadilhas. Foram alguns minutos tensos de expectativa.

Fiquei meio sem saber o que fazer e burrice ou não, eu comecei a responder aos uivos para que soubessem da minha presença ali. Então eles começaram a responder, até que um deles percebeu que um dos uivos estava vindo de um local inadequado. Esse mesmo caçador, bem humorado, me xingou achando que eu fosse um deles e sem me ver ele disse: “- Êh punheteiro!”, fiquei calado e mais alto ele disse. “- Êh punheteiro!” continuei calado e dai ele me alertou: “- Armei vários trabucos pra esse lado ai hem!” e foi embora. Foi nesse momento que decidi desarmar o acampamento e finalizar minha incursão na mata do Tauarizinho.

Depois de um tempo já estava fora da mata então comecei a ligar para o meu pai. Eu explico, o intuito era pra que ele me pegasse na estrada próxima a mata,. Dai eu não teria que cruzar a cidade inteira todo equipado, mas o celular dele estava no vibra-call e tive que voltar andando mesmo. Foi a festa da garotada que me via passar, ficavam admirados. Foi divertido.

Cheguei em casa com um cajado na mão meu pai olhou pra mim e me falou " Tá parecendo o pessoal de Santiago de Compostela", e tava mesmo hehehe.

Passado isso, eu não tinha muitas expectativas de ter outra aventura, pois não quis arriscar com o ombro avariado e deixei passar mais um tempo para que meu ombro se recuperasse e nisso foi o mês quase todo, o mês de férias....

Continua