quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

TAUARIZINHO E QUATIPURU-MIRIM PARTE2

Sempre tive vontade de conhecer a ilha de Quatipuru-Mirim que recentemente foi agregada ao município onde meus pais e irmãos nasceram, mas não havia tido oportunidade de visita-la e também fui um pouco desestimulado a ir, pois o acesso era difícil, estrada era pra rally. Meu pai tem um bugre, mas toda vez que ia pra aquelas bandas o veículo sempre estava com algum problema que não me permitia usa-lo.

Porém desta vez, tudo estava nos conformes. O bugre estava tinindo, meus pais estavam em casa e eu não podia perder esta oportunidade. Meio desestimulado, falei com minha mãe do meu interesse, ela disse que nunca havia visitado a ilha nem meu pai (surpreso). Mas a conversa ficou nisso mesmo, meio sem interesse.


No dia seguinte pela manhã, minha mãe disse que havia falado com meu pai sobre meus intentos. Como ele estava as voltas com a obra da casa, eu nem havia falado com ele, pois imaginei que ele não fosse topar. Bem, ela veio me dizer que ele respondeu positivamente (surpreso de novo), mas só se fosse agora e eu: - Então bora logo! E fomos, rapidamente arrumamos a tralha pra passarmos o dia e seguimos em direção a ilha. A estrada estava boa na maior aparte do trecho, mas complicou mais adiante, pois havia muitos buracos e os solavancos eram constantes. 

Bugre tinindo


No caminho várias histórias surgiram, algumas me chamaram bastante atenção. Um era que minha mãe apontou um trecho da estrada como sendo lugar  que percorria da cidade até lá caminhado com meus irmãos mais velhos quando eles ainda eram pequenos. Eu fiquei boquiaberto, pois quando me dei conta da distancia que havíamos percorrido, não dava pra acreditar.  É neste momento entendi, que em termos de caminhada, meus pais eram diplomados em relação a mim.


Um outra história que me chamou atenção foi o fato de que meu bisavô por parte de mãe, que era conhecido por “Militão”. Possuía titulo de boa partes das terras daquela região e como a família largou de mão, não tomou conta, elas foram sendo tomadas aos poucos por outras pessoas, uma lastima. Diziam que meu avô se parecia muito comigo na personalidade na fisionomia. Pena que não o conheci em vida.  Até hoje nunca vi se quer uma fotografia dele. Vou correr atrás disso.

Área dos campos - Terra de meu bisavô.

Ainda no caminho, a novidade da paisagem nos deixava contemplativos. Num dado momento observei que num casebre havia uma criação de jacarés, mas como não tínhamos certeza de quando iríamos chegar no objetivo, acabei por não registrar os bichinhos. Quem sabe da próxima!

Estrada para o Porto da Alemanha
Mãe e potro na estrada para o Porto da Alemanha

Depois de muitas curvas e sobe desce ladeiras chegamos ao “Porto da Alemanha”. Eu não sei dizer ao certo quantos quilômetros foram, pois nos perdemos em alguns momentos. O fato é que era longe pra dédél . Estávamos realmente muito longe do ponto de partida. Depois de admirar o local um pouco, ficamos meio naquela de vamos ou não vamos, pois já passava das 10:00 da manhã.

Porto da Alemanha

Área de embarque do Porto da Alemanha

Furo do porto da Alemanha - Maré baixa

Neste momento chegou um camarada gente finíssima de moto que nos encorajou a atravessarmos, pois disse que se nós fossemos, chegando lá haveria um “avuado” esperando por nós. Traduzindo o que é um avuado, é um peixe recém pescado e retirado as víceras, jogado na brasa, temperado apenas com sal e talvez um limão e que logo que está pronto ... a turma avua (voa) no peixe hehehe. A verdade é que é bem mais que isso, é meio que um momento de confraternização particularmente em volta de um peixe assado na brasa. Opa então vamos nessa.

A travessia era R$ 10,00 por cabeça, salgado!! mas fomos mesmo assim, pois a curiosidade era maior. Como a maré estava baixa, houveram alguns probleminhas no embarque, pois tivemos que andar no mangue até chegar no barco. Algo arriscado para os nossos pés, já que é bem comum ter pontas de galhos, esporas de peixes e outras coisas submersos na lama. Porém, apesar do susto que minha teve em alguns momentos (ela achava que ia afundar até o pescoço), mas logo meu pai a levou nos braços e ficou tudo tranquilo.

Partida em maré baixa



Enquanto partíamos, descobrimos que o piloto era inexperiente devido a algumas bizarrices feitas no trajeto, isso nos deixou meio tensos. Porém quando chegamos em área um pouco mais aberta e sem troncos no fundo, ficamos mais tranquilos. Mesmo dentro dos furos, a paisagem era linda de se ver. Os guarás(aves), gaviões, as garças estavam todos revoando perto de nós. O sol estava tão forte que a gente tentava se cobrir com o que tinha. Todo trajeto navegado durou cerca de vinte minutos devido a maré baixa.

Garças a beira mar

Então chegamos na ilha de Quatipuru-Mirim e de cara nos deparamos com a dificuldade do povo dali. Haviam alguns moradores com vários recipientes a beira mar. A ilha simplesmente não possui água potável, por isso eles tem que atravessar de barco até o “Porto da Alemanha”  e encher todos os recipientes e esse percurso é feito diariamente. Ainda por cima existe uma cota de água por família (POLITICAGEM).  Nas casas haviam sistemas de captação de água da chuva por meio calhas. Tudo bem simples, mas eficiente. As calhas são direcionadas para vasos de barro.

Moradores a espera do barco da água - Praia de Quatipuru-Mirin
Captação de água da chuva.

Em tempos de chuva, isso resolve bem a situação, mas em tempos de seca a coisa se complica. A dificuldade de consegui água é tanta que foi avaliado no passado que ali poderia haver água mineral, porém seria necessário perfurar uma espessa camada de rocha muito abaixo do solo. Segundo os moradores a tentativa foi feita em um projeto de governo ou coisa assim, mas a broca da perfuratriz quebrou e desde então não foram feitas novas tentativas. Mesmo que se cave um poço, a água que brota é salobra e imprópria para beber, mas o povo está resistindo e seguindo sobrevivendo mesmo com as dificuldades impostas pela natureza e pelo homem.


Então fomos adentrado e enquanto caminhávamos logo avistamos algumas casinhas suspensas cobertas de palha que são usadas pelos pescadores e visitantes. Logo mais adiante chegamos a vila de Quatipuru-Mirin e as casas se organizavam de uma forma bem típica em vilas de pescadores da região.

Casas cobertas de palha.

Vila de Quatipuru-Mirim


Ainda enquanto caminhávamos sob sol e areia escaldantes, não imaginei que fossemos participar de um avuado de fato. Então acabei devorando um provimento que minha querida mãe, já acostumada as aventuras de outrora que meu pai fazia conosco no passado, fez para nós. Eu estava brocado(faminto) e não dispensei o que estava a mão. Mas o nosso mais novo amigo estava certo sobre o avuado(adivinhão), mais afrente os pescadores estavam assando vários peixes na brasa que tinham acabado de pescar. Meu pai extrovertido que é, logo se entrosou com a turma e pediu uma latinha e uma cuia de farinha pra acompanhar o aperitivo. Eu me lasquei, mas pelo menos estava de barriga cheia.

Após o avuado.

Meu pai assim como eu ficou encantado com o local, tanto que queria logo compra um casebre para poder ir  sem pressa de voltar, com possibilidade de pescaria e tudo mais. Eu também vislumbrei isso e realmente seria interessante, mas não tocamos mais no assunto, creio que em pensamento a mesma coisa, que era melhor amadurecer a ideia.

Enquanto conversávamos com os pescadores, uma coisas me chamou a atenção, percebi que um dos pescadores usava uma adereço em um lugar que nós aventureiros estamos bem acostumados a ver ou até mesmo usar. Naquele lugar é pouco provável que este pescador tenha acesso a algum tipo de informação a esse respeito. Este objeto era uma faca estava pendurada no seu pescoço. Sim ele usava uma “faca de pescoço”. Pra vocês verem, mesmo distantes sobreviventes pensam de forma semelhante em soluções para suas problemas, pois é bem provável que o mesmo achou mais prático usar no pescoço para não perde-la na sua lida diária de pesca. No mínimo curioso.

Bem turma, deixo esta postagem por aqui com um certo receio de está sendo prolixo Espero que eu tenha tido sucesso em transporta-los para esta aventura, que os tenha os feito viajar um pouco e sentir a brisa do mar e o cheiro do mangue, deste lugar de natureza impar. Um agrande abraço a todos e fiquem com mais algumas imagens deste belo dia.